domingo, 14 de fevereiro de 2010

Ele era como um peixinho...



Ele era como um peixinho, como um peixinho que não tinha conhecido nada além de seu castelinho sujo e pedrinhas coloridas que enfeitavam seu pequeno aquário.Não é que ele não gostasse do lugar onde estava, ele era feliz ali. Mas ele sabia que havia um mundo muito maior a sua espera, um mundo muito melhor.


Ele não queria ser ingrato, mas há tempo o castelo não mudara, e suas pedrinhas quase não mudavam de posição. A cor da parede continuava vermelha, e o velho retrato preto e branco de um jardim possivelmente colorido continuava intacto no centro da parede.


A vontade de mudar se tornava angustiante com o passar dos dias, a vontade do novo. Mesmo não sabendo o que esse novo reservava.Ele tinha pena de largar tudo, pois afinal, com a sua partida o castelinho se sentiria solitário. Justo ele, que esteve sempre ao seu lado, lhe protegendo nas noites barulhentas, dos dedos tortos e sujos das crianças, do gato mesclado de olhos laranja.


Partir era difícil, ainda mais quando falamos de um mundo desconhecido e geralmente sem volta. Mas às vezes, na maioria das vezes, necessário.


Porém havia o vidro, e isso realmente o encantava.


O vidro lhe dava o infinito. Era como água sólida e quentinha. Era como, era como, era como... ele não sabia explicar o quanto era.Mas ele também não podia esquecer das pedras. Tão coloridas, tão pequeninas que o faziam se sentir gigante.


Às vezes, quando perdia o sono, ele pensava nelas. O seu colorido ficaria sem saturação se não fossem as pedrinhas que tonalizavam o ambiente.E no fundo, ele até gostava da parede vermelha, e o quadro descolorado lhe dava a sensação de ser ainda mais vivo.


E então ele ficou.


Mas para querer ficar, teve que querer partir.
Bruna Berri

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