
Encontro amigos dos meus pais que eu não via há anos e vejo em alguns deles as marcas claras do tempo. Penso: se os visse todos os dias, o impacto não seria o mesmo. Como não me assustam tanto os sinais do tempo em mim, nos amigos que vejo sempre. Sinto. A procura do amor é por essa eternidade: estar sempre juntos e não ver o tempo passar. O outro não envelhece, só ganha mais significado. Torna-se cada vez mais parte de nós mesmos. Tanto, que já não sabemos mais separar. A sua ou a minha velhice? A nossa. Nossa construção de amor, tijolo a tijolo. E que casa bonita. Eu sonho com ela, sim.
Felicidade é esse quase tudo que é tanto e que a gente acaba passando por cima como se fosse nada.
Ele mantém a cabeça ocupada, como se assim evitasse a doença do amor. Para não pensar no que já lhe tomou todo o corpo. E assim se divide em dois. Dois ou mais. Nunca está inteiro. Nunca está. Como se já se tivesse ido também. Mas há uma dor em suportar sua própria ausência. O que lhe parecia remédio agora dói. E não cura.
Há uma semana alguém bateu na traseira do meu carro. Coisa à toa. Nada que 15 dias de oficina não resolvam. Mas o pequeno susto ecoa por um tempo na memória. Penso nisso sempre que paro num semáforo. Filosofo: todo dia, confiamos que à nossa volta o freio do mundo vai funcionar. Ter medo de quê, então? Se cada nova manhã é um exercício involuntário de fé.
A vida quase morta...
"O contrário do prazer não é a tristeza, é o tédio", disse o belo professor de filosofia.
Ela não imaginava que a inteligência pudesse morar em casa tão bonita.
Rápida, tentou impressionar:
— Da tristeza eu faço letra de samba. E acordo de novo a alegria que mora em mim.
"É preciso ter coragem", ele respondeu. Sem coragem, a vida é mesmo um tédio.
E o que ela mais teme é ser engolida pelo tédio.
— É preciso ter coragem para não se acostumar.
E pediram mais uma garrafa de vinho.
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